O ballet que a plateia não vê
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Dançando desde sempre... Dançar faz parte da essência humana desde sempre. É uma das manifestações culturais mais antigas que existe, através da qual o homem da antiguidade homenageava seus deuses, demonstrava agradecimento, expressava suas dores e comemorava vitórias. A dança era a conexão do homem com o sagrado.
Hoje a dança está muito mais relacionada a arte e entretenimento. O ballet clássico, por sua vez desviou-se ainda mais do sentido espiritual da dança dada sua exacerbada busca pela perfeição estética.
Não pense que sou contra a técnica, a prática e a busca pelo aperfeiçoamento contínuo. Muito pelo contrário... sou defensora da “moda antiga” que ainda acredita que só o trabalho leva ao sucesso. No entanto, ouço o tempo todo relatos de bailarinas que resistiram a aulas massacrantes, rigidez excessiva e rotinas cansativas, e sempre acreditei que o que ainda mantinha essas pessoas no ballet clássico era a paixão pela arte. De repente me dei conta de que o que elas buscam vai muito além disso.
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Para dançar ballet é preciso DANÇAR. Fui convidada pela queridíssima Karen Ribeiro para fotografar o “1º Workshop de Consciência do Movimento para a Prática do Ballet Clássico”. Entre as participantes, bailarinas das mais variadas profissões, idades, experiências e culturas. À primeira vista, um grupo bastante heterogêneo. Após alguns minutos ouvindo as experiências daquelas mulheres percebi o quão claro era a diferença entre “fazer ballet” e “dançar ballet”. Para “fazer ballet” você só precisa de um corpo bailarino, mas para “dançar ballet” é preciso ter uma alma bailarina. E assim pessoas com motivos tão diferentes para estar lá naquele domingo começavam a formar um grupo muito homogêneo de almas genuinamente bailarinas.
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Almas bailarinas. Muitos são os motivos que levam uma pessoa ao ballet e alguns foram citados durante o workshop: desafio da superação, sonho de menina, projetos sociais, busca do aperfeiçoamento, terapia, questões de saúde... Mas a questão é: “Por que as pessoas continuam”? Como já disse antes, eu achava que era simplesmente amor pela arte. Depois do workshop entendi que PARA ALMAS BAILARINAS DANÇAR É VITAL. Almas bailarinas precisam encontrar-se com seus corpos, estejam estes corpos preparados para dançar ou não.
Pés en dedans dançam. Curvas de pé pouco acentuadas dançam. Pernas baixas dançam. E mesmo que você não tenha abertura, esteja acima do peso e considere seus pés feios... amiga, se tiver uma alma bailarina, não tem escapatória: você vai dançar.
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O ballet do fundo da alma. Almas bailarinas não escolhem o ballet... são escolhidas por ele. Dançar significa abrir mão de todos os preconceitos e simplesmente deixar que a alma conduza o corpo. Dançar é olhar para dentro, é um momento de verdade, é um retorno a si mesmo. A coreografia é mera consequência.
Almas bailarinas não precisam de escolas de ballet embora busquem almas gêmeas em suas sapatilhas de pontas e as encontrem nas barras. Certamente o maior paradoxo dessa história toda é que estar no palco em frente à plateia é o momento mais íntimo de almas bailarinas. É no palco que se encontram, que se realizam, que se reconectam com o sagrado.
E esse é o ballet mais bonito e verdadeiro que existe... e que a plateia comum jamais verá.