Quem quer ser uma bailarina?
- Silvia Lavagnoli
- 29 de jun. de 2016
- 5 min de leitura
BALLETTO. Era assim que o ballet clássico era conhecido quando surgiu há mais de 500 anos na Itália. Tornou-se popular na França, quando foi batizado de ballet e até os dias de hoje faz parte do sonho de muitas meninas.
SONHO DE MENINA. Muitas garotas frequentaram aulas de ballet e a grande parte delas sonhou jamais parar de dançar. Mas a vida real muitas vezes nos afasta dos sonhos. A gente cresce, vai para a faculdade, começa a trabalhar e acha que o tempo de sonhar em ser bailarina já passou. E assim, abandona as sapatilhas.
Há também aquelas meninas que nunca puderam fazer aulas de ballet pois houve épocas em que o ballet era considerado um “luxo”, um item caro no orçamento de muitas famílias. Para elas restou admirar a arte na plateia.
BRINCADEIRA DE GENTE GRANDE. O tempo passou e as meninas cresceram. As escolas de ballet demoraram anos, mas enfim enxergaram que existia por aí dois grupos distintos de mulheres adultas com um enorme potencial para vestir sapatilhas. Surgiam assim os cursos de ballet para adultos cuja proposta era ensinar novatas e trazer as bailarinas da “velha guarda” de volta para os palcos (já escrevi sobre isso há alguns meses, releia aqui).
Isso aconteceu há cerca de 7 anos atrás e atrair esse público não foi muito difícil já que existia a demanda e o segmento era pouco explorado. Hoje, a questão dos cursos de ballet para adultos gira em torno de como fidelizar e manter o interesse dos alunos nas aulas de ballet clássico. Peguei minha câmera e fui descobrir...
BALLET ADULTO KR. Tive o grande prazer de conhecer, conversar e fotografar uma aula da bailarina Karen Ribeiro, pioneira no ensino de ballet para adultos. Com cara de menina, um jeito meio maluco de ser de uma adolescente e uma baita experiência típica de mulher madura, Karen está à frente do Ballet Adulto KR desde 2009 e até hoje suas salas de aula se mantém repletas de alunos.


A BAILARINA ADULTA. “Depois de uma certa idade o corpo da mulher muda e não tem a ver com ser gorda ou não. O braço é diferente, a perna é diferente, o queixo é diferente. A coxa tem outro desenho porque o quadril já está maior. São coisas de linha. Você vê na hora quem é uma criança e quem não é”, diz Karen. Esse corpo adulto pode até não ser o padrão para o ballet clássico, mas ele é perfeitamente capaz de dançar.
A beleza do ballet adulto está diretamente relacionada à criação de um grupo homogêneo. Ao reunir um grupo de mulheres com características físicas similares que respeitam os limites do corpo mas jamais negligenciam os aspectos técnicos do ballet, Karen conseguiu levar suas bailarinas (até mesmo as novatas!) aos palcos e ganhar prêmios em diversos festivais.
Se já sabíamos que "dançar não tem idade", Karen provou que "começar a dançar" também não tem.
As bailarinas adultas se realizaram e o público gostou do que viu.




METODOLOGIA. Assinado por Boris Storojkov, a metodologia do Ballet Adulto KR tem o foco na arte. Todo bailarino quer dançar e não simplesmente fazer aula. Se for um bailarino adulto, some a isso o fato de que ele não quer perder tempo. O aluno quer ver resultado e segundo Karen, “é preciso alimentar um sonho a cada etapa, ou seu aluno vai te abandonar”. Por isso realizar um trabalho similar ao de uma companhia de dança profissional, mantendo o foco na arte, é peça chave para manter os alunos adultos engajados no curso.

QUEM SÃO ELAS? Fotografei a turma do Ballet Adulto KR em uma noite de terça-feira absolutamente CON-GE-LAN-TE! Mas nem o frio abalou o alto astral dessa mulherada linda (confesso que fiquei com vontade de largar a câmera e calçar as sapatilhas para me juntar a elas!). Cada uma dessas mulheres chegou à essa escola por um motivo diferente. Em comum, trouxeram a dedicação, disciplina e amor pelo ballet.
Fernanda Verginelli esbanja classe! Começou a fazer ballet por indicação do médico. Na verdade, ele recomendou pilates, mas ela não se adaptou. O plano “B” foi o ballet clássico e aos 46 anos ela começou a dançar.
Hoje com 50 anos, Fernanda percebeu o quanto o ballet faz bem tanto para a coluna quanto para a cabeça! "É um momento mágico, onde minha idade não importa!!! As aulas da Karen são bem didáticas e nos faz poder sonhar em sermos bailarinas independente da idade e tipo físico!!", conta Fernanda.


Julia Francisco é uma das mais jovens da turma. Ela tem 22 anos, é atriz e procurou o ballet para aperfeiçoar a consciência corporal, afinal de contas seu corpo é o instrumento de seu trabalho.
Começou a dançar aos 19 anos e chegou ao Ballet Adulto KR quando procurava um curso de ballet para adultos que ensinasse a dançar nas pontas (já que não são todas as escolas de ballet adulto que dão essa técnica).
"O ballet me proporciona muitas coisas boas além da endorfina e do prazer de poder transpor minha mente para uma poesia duas vezes por semana. Por conta dele, consegui superar questões pessoais e aceitar melhor o meu corpo e suas limitações", conta Julia.
Vanessa Dantas sempre sonhou em ser bailarina e começou aos 12, mas ficou só 2 anos. Já adulta tentou voltar mas foram várias idas e vindas. Ela conta: "um dia achando que era tarde para realizar esse sonho vi um vídeo da Karen no YouTube e me emocionei porque ela falava tudo que eu sentia , os meus medos foram sumindo e pensei: eu posso realizar meu sonho!". Vanessa voltou e nunca mais parou.


Confesso que de tudo o que eu esperava encontrar em uma aula de ballet, uma das menos prováveis era uma gestante! Linda, exibindo o barrigão, estava lá Marina Silva, também realizando seu sonho de infância.
"É maravilhoso, eu me desligo do mundo e encontro a mim mesma quando faço as aulas, ou até mesmo quando assisto algum espetáculo. É inexplicável a sensação", conta Marina que já sofre antecipadamente pelo período que deverá ficar afastada depois da chegada do bebê.
Ela fez ballet quando criança, mas parou na época da faculdade. Aí veio o trabalho e ela achou que o tempo já tinha passado para sonhar em ser bailarina. Alguém já viu esse filme? A arquiteta Roberta Zaghe também já viu. Mas ela não se conformou. Cansada de academia e musculação, há um ano ela voltou a dançar e disse que "se apaixonou novamente pelo ballet". A verdade é que talvez ela nunca tenha deixado de amá-lo.

Não posso finalizar esse texto sem expressar minha grande estima por todos os alunos que participaram da aula. Histórias tão diferentes acabaram se encontrando em um estúdio de ballet para provar que o sonho de ser bailarina, no final das contas, não tem data de validade.
À você, Karen Ribeiro, que esteve à frente de um projeto tão bonito e sempre acreditou nos seus alunos, devo todo meu respeito e admiração. Em nome de todas as bailarinas adultas, muito obrigada!
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