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BOBEOU, CLICOU!

1001 motivos para fotografar

Hospital Matarazzo

DE QUE VALEU A EXPOSIÇÃO QUE PRECEDEU A (PROMETIDA) REVITALIZAÇÃO?

"Não tô nem aí para arte contemporânea e arquitetura neoclássica!"

"Pura jogada de marketing para justificar o empreendimento imobiliário que virá em seguida!"

Esses foram alguns dos comentários que rolavam quando aconteceu a exposição Made By... Feito por brasileiros, entre setembro e outubro de 2014 no antigo prédio onde funcionava o Hospital Matarazzo.

Bem, eu adoro arte contemporânea e arquitetura neoclássica, mas confesso que fui visitar a exposição muito mais movida pela curioidade do que qualquer outra coisa. Era certo que essa seria a última oportunidade de conhecer essa página da história de São Paulo escrita pelos imigrantes italianos. Quem esteve na exposição, certamente experimentou uma sensação de nostalgia e volta ao passado em um ambiente de puro abandono.

Erguido em 1904 e interditado em 1993 pela vigilância sanitária, o Hospital Matarazzo ficou fechado e abandonado por mais de 20 anos, exceto por dois períodos quando abrigou a Casa Cor 2003 e a Casa dos Criadores em 2005. Quase 10 anos após o último evento, Em setembro de 2014, o local foi reaberto para a exposição Made by... Feito por Brasileiros, primeiro evento que aconteceu após a compra do complexo por um grupo francês que pretende revitalizar a área.

Estátua do Conde Francisco Matarazzo

Um pouco de história. A Casa de Saúde Francisco Matarazzo surgiu da iniciativa de imigrantes italianos que chegaram ao Brasil no início do século 20. Aqueles imigrantes que logo “deram certo” criaram associações para ajudar os menos favorecidos. Muitos contribuíram, mas foi o Conde Francisco Matarazzo quem mais se engajou no processo. O slogan: “A saúde dos ricos para os pobres” dispensa maiores explicações sobre a natureza da iniciativa.

A visita. Eu nunca tinha estado naquele lugar e apesar do objetivo de minha visita ser fotografar a exposição, foi impossível manter a atenção somente nas obras de arte e instalações. Como o prédio não foi restaurado para o evento, as marcas do tempo estavam por todos os lados: as paredes descascadas, o teto mofado, o piso deteriorado, a caixilharia quebrada... Demorei um tempinho até conseguir me concentrar “mais” na exposição do que no espaço. Minha mente insistia em imaginar como foi aquela edificação em sua época de ouro, como todas aquelas salas funcionavam como quartos de hospital.

A exposição. Quando enfim consegui me concentrar nas instalações, esculturas e obras de arte, comecei a fotografar. Selecionei os meus melhores cliques para compartilhar nesse blog.

Minha favorita. Arte só é arte quando te provoca. Ou quando toca seu coração. E é por esse motivo que essa foi a instalação que eu mais gostei: simplesmente tocou meu coração. Acredito que o contraste do brilho e delicadeza do violoncelo junto aos restos de uma embarcação em um ambiente desgastado pelo tempo foi o que me agradou. (Assista aqui o artista Nuno Ramos "explicando" sua obra.)

Nuno Ramos (Made by... feito por brasileiros)

O ícone da exposição. Tem fotos da escultura de Arne Quinze espalhadas em todas as redes sociais. Ficava logo na entrada no lado externo. O clique abaixo é do amigo e fotógrafo César Ricardo Palmeira (confira outros cliques desse fotógrafo).

Arne Quinze (Made by... feito por brasileiros)

Instalação do artista brasileiro Tunga (Made by... feito por brasileiros)

Pérolas aos porcos? Não sei se essa foi a intenção do artista, mas isso foi o que eu "vi". Em uma instalação/ performance de autoria do artista brasileiro Tunga, pessoas escondidas sob grandes vasos de barro de ponta cabeça “costuravam” espigas feitas com pérolas. E quando ficavam prontas as espigas eram jogadas no chão ou em tigelas de cerâmica. O click abaixo é da fotógrafa Márcia Braga que captou o detalhe das pérolas arranjadas caprochosamente em espigas. Quer saber mais do trabalho dela? Clique aqui.

Detalhe da instalação (Made by... feito por brasileiros do artista Tunga)

Brilho no escuro. Esta instalação chamou bastante a minha atenção. Uma sala com todas as janelas fechadas criava um lindo contraste com o material brilhante e colorido utilizado pela artista Myriam Mechita.

Myriam Mechita (Made by... feito por brasileiros)

Artesanato que virou arte. Outra linda obra era o piano todo revestido em crochê e renda, da artista Joana Vasconcelos.

Joana Vasconcelos (Made by... feito por brasileiros)
Rodrigo Bueno (Made by... feito por brasileiros)

Cura in Natura. Estátuas encontradas no próprio hospital abandonado foram utilizadas na instalação do artista Rodrigo Bueno. A presença das borboletas em todas as estátuas chamava a atenção dos visitantes. Plantas medicinais complementavam a instalação batizada de “Cura in Natura”.

Reflexos. O artista Per Clay criou uma piscina de óleo ao redor da famosa escadaria do Matarazzo. O resultado: um harmonioso jogo de reflexos que variava conforme o ponto de vista do visitante. A iluminação natural também interferia no resultado final da instalação.

Per Clay (Made by... feito por brasileiros)

Selfie na instalação de Kenny Scharf (Made by... feito por brasileiros)

Pausa para a selfie. Aqui não me contive... Alguns espelhinhos escondidos em meio a um zilhão de cores e objetos comuns davam a condição perfeita para uma selfie "cheia de arte". A instalação era de autoria de Kenny Scharf.

Como termina a história? Em 2011 o complexo foi comprado por um grupo francês que promete revitalizar a área até 2018. O projeto inclui um hotel 6 estrelas de autoria do arquiteto Jean Nouvel. As fachadas, volumetrias, assim como certos elementos construtivos de alguns edifícios existentes são tombados. Deverão ser preservados e a ideia inicial é que seriam restaurados para abrigar um centro cultural.

É bem possível que a realização da exposição tenha sido motivada mais por questões marketeiras do que culturais. A indústria imobiliária em São Paulo é muito forte e não sabemos quanto do antigo complexo do Hospital Matarazzo estará de pé após a revitalização da área. Há um blog (http://hospital-matarazzo.blogspot.com.br) cujos membros acompanham de perto o andamento das obras de revitalização e na maioria das vezes sua posição é bem cética em relação ao verdadeiro propósito da revitalização.

A nós cabe esperar que essa história tenha um final feliz. A exposição pode ter sido bem controversa, mas ao menos nos deu a oportunidade de ver de perto o que restou da construção do sonho de um imigrante. Ao Conde Francisco Matarazzo com seu slogan "que o dinheiro dos ricos se reverta na saúde dos pobres", só podemos dizer "muito obrigado" por seu legado.

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